Crónica de Alexandre Honrado
O pior vírus que anda por aí
A política é uma pequena parte da experiência humana.
Já alguém escreveu que não é uma ciência exata, mas uma ciência triste. Precisa de apoio, precisa de quem lhe dê crédito e todavia desacredita-se e desequilibra-se sem necessidade de grande empurrão ou contraditório.
Cresci a seguir debates políticos, antigamente os líderes eram carismáticos e enchiam ecrãs e colunas de som, mas foi esmorecendo o encanto que eu encontrava nos debates. Cheguei mesmo debater – e o cansaço de ver como me debatia como um peixe fora de água, reclamando ar, deixou-me marcas, algumas profundas, cicatrizes indisfarçáveis. Não é por isso que não continuo a pensar que é no encontro das ideias que podemos aproximar-nos. Não que sejamos todos talhados para a aproximação, nem sequer para a igualdade, mas exatamente porque são as nossas diferenças e a aceitação da diferença, o que mais nos engrandece.
Tenho ouvido os debates mais recentes. A má educação e a mentira que sobressai em alguns deles. A falta de tino e de orgulho numa atividade, essa mesma, a política, que nos consagra os meios de viver em grupo e procurar justiça.
Há candidatos medíocres com ideias medíocres. Mas isso não me incomoda, porque a mediocridade também é humana. Incomoda-me, preocupa-me e mobiliza-me o que encontro noutros candidatos, esses mais do que medíocres, perigosos.
Sabe-se que a história esmaga a memória para poder seguir em frente. Mas se a memória nos ajuda, talvez possa impedir que o pior da história volte aos nossos dias.
Não é a Covid o inimigo principal, nem sequer o seu vírus é o adversário mais fatal.
Alexandre Honrado
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